Entre o Beco e o Senna: a Jornada de Construção do Roteiro
Explorar as várias facetas de Ayrton Senna foi um dos maiores desafios enfrentados por Álvaro Mamute e sua equipe de roteiro. "Achar o equilíbrio entre o Beco, amigo e filho, e o Senna, o piloto lendário, foi complexo, mas profundamente recompensador", compartilhou ele.
Para Álvaro, o segredo estava em entender a essência de Ayrton. "Seus objetivos, receios, motivações e afetos são o que o tornam quem ele é. Quando você acessa isso, percebe que o Beco e o Senna são manifestações das mesmas qualidades e defeitos. Encontrar essa lógica é difícil, mas, uma vez alcançada, tudo faz sentido, e equilibrar as diferentes dimensões do personagem se torna algo natural."
A jornada de compreender e dar vida a essa figura multifacetada foi, para Álvaro, não apenas um desafio, mas também uma grande lição sobre o peso de representar a humanidade de uma lenda.
Um Olhar que Contou Toda a História
Durante as filmagens de Senna, muitos momentos emocionaram profundamente Álvaro Mamute, mas um deles ficou gravado para sempre em sua memória. Ele relata, com os olhos ainda marejados, a gravação de uma cena no terceiro episódio, inspirada em uma entrevista real que sempre o tocou. "Eu estava atrás da câmera, a alguns metros de distância, quando o olhar do Gabriel cruzou comigo. Ele ficou o resto da cena olhando nos meus olhos, como se aquela entrevista estivesse sendo dada diretamente para mim. Não me contive, chorei horrores", lembrou.
A intensidade do momento se desdobrou em um gesto que selou a experiência. "Quando cortamos o take, ele veio na minha direção e me abraçou. Eu só conseguia agradecer. Foi um daqueles instantes em que você sente que tudo valeu a pena", concluiu.
Para Álvaro Mamute, ver seu nome associado a Senna, uma das maiores séries do automobilismo, ainda parece algo inacreditável. Ele revela que sua conexão com Ayrton Senna começou dentro de sua própria família, marcada por um histórico de homenagens a ídolos. "Meu tio, que mais me influenciou com o amor pelo Senna, tinha esse desejo profundo de agradecer às pessoas que admirava. Ele saiu do Rio de Janeiro para ir ao funeral do Senna, dirigiu 12 horas, enfrentou 5 horas de fila... e ainda ficou triste por achar que tinha feito pouco para expressar isso em vida", contou.
Esse sentimento de gratidão e admiração acabou passando para Álvaro, que enxergou na série uma maneira de manter vivo o legado de Ayrton e os exemplos que ele representa. "Corri atrás de todas as formas possíveis para estar junto e contribuir nesse trabalho. Meu tio infelizmente faleceu antes de ver a série, mas essa paixão que veio dele para mim... isso viverá para sempre com o legado do Senna. Me sinto um privilegiado por ter podido contribuir de alguma forma para isso", refletiu emocionado.
Para Álvaro Mamute, a estreia de Senna foi um momento tão marcante que ele ainda luta para acreditar que realmente aconteceu. "Sério, eu estava muito apreensivo sobre como seria a recepção dos episódios pelas pessoas. Sinceramente, não sei se aproveitei como deveria, porque só pensava nisso", confessou. No entanto, quando percebeu que os episódios emocionaram o público, o alívio tomou conta. "Aí foi só alegria", afirmou.
Entre os momentos especiais da noite, ele não resistiu a tietar Felipe Massa. "Obviamente, tive que tietar!", brincou. Apesar do ambiente repleto de grandes nomes e da presença da família Senna, Álvaro manteve o foco na conexão que a série estabeleceria com as pessoas: "Eu não estava tão ligado na questão de 'famosos'. O que mais me preocupava era se as pessoas iam gostar! HAHAHAHA."
O público da Fórmula 1 deve MUITO do cuidado presente nessa produção a ele. As pessoas não fazem nem ideia do quanto. Fico extremamente feliz por ter feito parte disso, por ter dado suporte a toda a equipe — do departamento de arte ao figurino, passando pelo VFX e pela direção — e por ter tido a oportunidade de aprender sobre todo o processo produtivo de uma série.
O que mais levo de valor desse projeto são as amizades. Desde as primeiras equipes de roteiro — Luiz Bolognesi, Lusa Silvestre, Patricia Leme, Nathalia Guinet, Ana Julia Travia, Davi Kolb, Patricia Andrade — até a mesa final, com Gustavo Bragança, Rafael Spínola, Thaís Falcão e Álvaro Campos (meu xará!).
Por fim, só para encerrar de forma edificante e parecer que passei por media training: aprendi que tudo é possível. Só assim para um moleque do Méier acabar escrevendo uma série sobre seu maior ídolo."