google-site-verification: google02095b091fbef8f1.html LEWIS HAMILTON: A DESUMANIZAÇÃO NA FÓRMULA 1

LEWIS HAMILTON: A DESUMANIZAÇÃO NA FÓRMULA 1

Por: Gabrielle Cristina Cândido

Não é de hoje que o heptacampeão Lewis Hamilton enfrenta um tratamento diferenciado em relação aos demais pilotos que dividem o grid com ele. Desde sua estreia em 2007 pela equipe McLaren, ele já sabia que sua jornada não seria fácil. Afinal, entendia bem que as pessoas, de modo geral, podem ser cruéis — seus anos na escola e no kart já haviam provado isso a ele.

O ponto aqui é como as pessoas, sejam da mídia ou torcedores, esquecem que, por trás de um piloto habilidoso, respeitoso e com um conhecimento gigantesco sobre a engenharia deste esporte, existe um ser humano. Alguém com desejos, metas a serem cumpridas e momentos complicados — algo que todos nós também temos.

Recentemente, Lewis Hamilton estreou pela Scuderia Ferrari, um dos maiores feitos do automobilismo, mas que, claro, atraiu todos os holofotes para ele. Com a nova escuderia, Lewis precisa se adaptar e entrar em sintonia com seu novo engenheiro, Riccardo Adami. E, como era de se prever, a primeira corrida da nova dupla não saiu exatamente como planejado. Durante a prova, houve rádios que muitos veículos de comunicação interpretaram como “grosseiros” — mesmo que Hamilton dissesse “please” a cada vez que solicitava uma informação. Isso gerou burburinhos, como se ele nunca pudesse demonstrar frustração ou se comunicar de maneira mais assertiva e objetiva no rádio.

E como não há muitos dias tranquilos para uma figura pública tão grande, que desperta admiração em tantos torcedores, Lewis Hamilton apareceu no Grande Prêmio do Japão sem suas conhecidas tranças. Mais uma vez, isso despertou a curiosidade de alguns torcedores, que queriam ver seus cachos. E aqui entra a problemática: pessoas pretas enfrentam conflitos com seus cabelos desde muito novas. Como dito acima, existe uma cultura enraizada entre pessoas preconceituosas que consideram o cabelo cacheado “ruim”. O que nos leva à pergunta: o que seria, afinal, um cabelo bom?

Durante a preparação para a corrida, Lewis foi flagrado pela transmissão mundial arrumando os cabelos antes de colocar a balaclava. Ali, foi possível ver que ele estava com os cachos soltos — algo que muitos torcedores haviam pedido para ver ao longo do fim de semana e, por isso, ficaram felizes. Seus cachos estavam realmente lindos. No entanto, isso não passou despercebido por aqueles que estão sempre à espera de uma oportunidade para fazer comentários maldosos ao único piloto preto da categoria. A cena foi suficiente para que surgissem insultos racistas nas redes sociais: alguns alegando que seus cabelos “precisam de hidratação”, outros dizendo que é por serem “ressecados” que ele usa tranças. Mais uma vez, associando cabelo afro a algo “ruim” — seja lá o que isso signifique.

E isso nos leva ao ponto principal: por que as pessoas se sentem tão à vontade para comentar sobre o cabelo afro de um piloto preto? E por que ele parece ser o único piloto que nunca pode se recusar a algo? Ao que tudo indica, ao longo dos anos, depositou-se sobre ele uma expectativa tão alta que chega a ser injusta. Afinal, estamos falando de um ser humano. E isso não se resume apenas a pessoas que não são fãs — muitos torcedores também acabam reforçando estereótipos que já deveriam ter sido superados em pleno 2025.

Lewis Hamilton em fotos promocionais para a equipe - Reprodução: Scuderia Ferrari